quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Sobre o Bullying

Segundo Aramis Lopes A. Neto (2005), sócio fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA) e coordenador do Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes, o “bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder. Essa assimetria de poder associada ao bullying pode ser conseqüente da diferença de idade, tamanho, desenvolvimento físico ou emocional, ou do maior apoio dos demais estudantes”.
Foi somente a partir de 1990 que se iniciaram as pesquisas a respeito. Segundo estudos, a prevalência de estudantes vitimizados na escola varia de 8 a 46%, e de agressores, de 5 a 30%. O bullying pode ser classificado como direto ou indireto, sendo que, no primeiro caso as vítimas estão presentes e no segundo, ausentes. Como bullying direto tem-se: apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais ou expressões e gestos que geram mal estar aos alvos. Esse tipo é usado na maioria por meninos. Já o bullying indireto são: atitudes de indiferença, isolamento, difamação e negação aos desejos, sendo estes usados com maior freqüência entre as meninas. Existe também o cyberbullying, em que há o uso da tecnologia da informação e comunicação como recurso para os comportamentos hostis.
Como fatores de risco para sua ocorrência, Neto (2005) cita: fatores econômicos, sociais e culturais, aspectos inatos de temperamento e influências familiares, de amigos, da escola e da comunidade. A ocorrência é mais comum entre alunos com idades entre 11 e 13 anos. Contudo, vale lembrar que essa associação com a carência econômica como um fator de risco está um pouco desatualizada, já que a classe média atualmente se encontra também envolvida em casos de violência e, sobretudo, ainda é carente de punição severa, como nos lembra Lizia Helena Nagel (2007), em seu artigo sobre o bullying. Além disso, a prática do bullying causa impacto na saúde e no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, e têm conseqüências negativas imediatas e tardias sobre todos os envolvidos: agressores, vítimas e observadores.
O alvo do bullying geralmente é o indivíduo retraído e inseguro. Algumas das características familiares entre estes indivíduos são a proteção excessiva dos pais e o tratamento infantilizado. Já os autores do bullying são populares entre os alunos, agressivos e impulsivos. A família geralmente é desestruturada, com relacionamento afetivo pobre, excesso de tolerância ou permissividade e maus-tratos físicos. Quanto às testemunhas do bullying, na maioria das vezes se calam por medo de serem elas mesmas a próxima vítima. Elas podem ser classificadas em: auxiliares, quando participam da agressão; incentivadores, quando estimulam a agressão; observadores, observam ou se afastam; e os defensores, protegem o alvo ou chamam um adulto para interromper a agressão. Aproximadamente 20% dos alunos autores também são alvos.
Segundo Fante (2005), é comum entre os alunos diversos tipos de conflitos e tensões como forma de auto-afirmação ou diversão para comprovarem as relações de força entre eles. Contudo, caso exista em sala de aula um agressor potencial ou vários deles, seu comportamento agressivo influenciará nas atividades dos alunos, promovendo interações ásperas, veemente e violentas.
O agressor usa da forma impositiva pelo uso da força, sendo seus ataques desagradáveis e dolorosos para os demais e, no que diz respeito às vítimas, geralmente são indivíduos mais frágeis, fáceis de dominar (porém, o agressor sente-se forte e confiante para brigar com outros alunos da classe), psicologicamente ansioso, inseguro, passivo, tímido, com freqüência mostra-se fisicamente indefeso, com dificuldade de impor-se e ser agressivo, sendo o tipo “bode expiatório”. O agressor sabe que este tipo de aluno se atemorizará, talvez vindo a chorar, e ninguém o protegerá.
O bode expiatório, para o agressor, é um alvo ideal, pois sua ansiedade, ausência de defesa e choro produzem um sentimento de superioridade e supremacia, podendo satisfazer alguns impulsos de vingança. Normalmente o agressor consegue fazer com que outros alunos se unam a ele, formando grupos (gangues), e induz os colegas mais íntimos a escolherem um bode expiatório, pois, ao que parece, o agressor sente a mesma satisfação quando ataca ou quando assiste outros atacando uma vítima. Sempre que seus atos produzem alguma conseqüência, o agressor tem sempre alguma estratégia para sair-se bem, mas, na maioria das vezes, o professor ou funcionários da escola não se encontram no local no momento dos ataques. Assim, os próprios alunos têm que resolver a situação por si mesmo.
É comum que a vítima não conte aos professores e aos pais sobre o que se passa na escola, e que os outros alunos participem da agressão pois sabem que o aluno é mais frágil e não consegue revidar, além de que, nenhum aluno mais forte sairá em sua defesa. Tal atitude acaba tornando-se tão comum que, quando os atos hostis tornam-se poucos, a vítima chega a estranhar o fato, sendo que, no fundo, ele sente que não possui valor e é merecedor dos ataques. Assim, aos poucos vai se isolando do grupo-classe, uma vez que sua reputação torna-se cada vez pior por causa das constantes gozações, dando a impressão entre os alunos de que ele não serve para nada.
Algumas vezes os alunos têm medo de que sua reputação seja ameaçada ou terão a desaprovação dos agressores se alguém os verem em companhia do aluno alvo das gozações, podendo temer até tornarem-se a próxima vítima, aumentando ainda mais a ocorrência do bullying.
Para que um comportamento seja caracterizado como Bullying é necessário distinguir os maus tratos ocasionais e não graves dos maus tratos habituais e graves. Portanto, os atos de bullying têm como características os comportamentos de forma repetitiva num período prolongado de tempo contra uma mesma vítima; apresentam relação de desequilíbrio de poder, dificultando a defesa da vítima; ocorrem sem motivações evidentes; e são comportamentos deliberados e danosos. Podem acontecer de forma direta e indireta (mas ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo): a direta diz respeito as agressões físicas, como bater, chutar e tomar pertences, apelidos pejorativos e discriminatórios, insultos e constrangimentos. As indiretas são através da disseminação de rumores desagradáveis e desqualificantes, visando a discriminação e exclusão da vítima do seu grupo social. Talvez esta última seja a mais prejudicial, podendo causar traumas irreversíveis.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, Márcia Mayumi Kurumoto, Noélton Panini de Sousa e Simoni Hidalgo Dantas


REFERÊNCIAS

ABRAPIA: Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência. Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes. Disponível em: < http://www.bullying.com.br/BConceituacao21.htm >. Acesso em: 15 jun. 2010.

FANTE, C. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2ª Ed. Campinas, SP: Verus Editora, 2005.