quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Reflexão: "Seja Você Mesmo!"


            Os "modismos" sempre me incomodaram por tentar padronizar coisas, sejam coisas materiais (roupas, sapatos, perfumes, etc.), sejam comportamentos. Essa tentativa de padronização não respeita a diversidade que é o ser humano, obrigando que os gostos e atitudes de grupos e sociedades sejam limitados àquilo que alguns poucos acham que é bom, ou aquilo que trará ganhos para esse pequeno grupo. Pois bem, parece que a “onda” agora é sorrir quando se está triste. Nas novelas não dá para saber se os atores estão tristes ou alegres, porque choram e riem ao mesmo tempo, mesmo diante de uma desgraça. No Facebook, existem vários compartilhamentos de frases e imagens incentivando a sorrir, mesmo estando triste. Para que isso? É tão difícil suportar outra pessoa triste? A pessoa triste vai afastar as outras pessoas se demonstrar o que sente? É feio estar triste? Não! A tristeza é um sentimento pertencente ao ser humano assim como a alegria, remorso, culpa, etc., e não é menos digno estar passando por ela (que fique claro que não estou falando de tristeza contínua, porque aí pode ser um quadro de depressão). Portanto, para que fingir estar alegre se se está triste? Seja você mesmo, mesmo que naquele momento você está triste! Aproveite a tristeza para analisar os pontos que te fazem sofrer e, assim, resolve-los! Mas não a ignore, não ignore uma parte de você que está se manifestando, que constitui sua essência e, portanto, tem uma função importante em você. Creio que um estado de felicidade só é possível se o componente Liberdade estiver presente, e a Liberdade exige que você manifeste Quem você é, mesmo que a sociedade diga que você tem que fazer isso ou aquilo, restringindo sua manifestação.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Sobre o Bullying

Segundo Aramis Lopes A. Neto (2005), sócio fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA) e coordenador do Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes, o “bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder. Essa assimetria de poder associada ao bullying pode ser conseqüente da diferença de idade, tamanho, desenvolvimento físico ou emocional, ou do maior apoio dos demais estudantes”.
Foi somente a partir de 1990 que se iniciaram as pesquisas a respeito. Segundo estudos, a prevalência de estudantes vitimizados na escola varia de 8 a 46%, e de agressores, de 5 a 30%. O bullying pode ser classificado como direto ou indireto, sendo que, no primeiro caso as vítimas estão presentes e no segundo, ausentes. Como bullying direto tem-se: apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais ou expressões e gestos que geram mal estar aos alvos. Esse tipo é usado na maioria por meninos. Já o bullying indireto são: atitudes de indiferença, isolamento, difamação e negação aos desejos, sendo estes usados com maior freqüência entre as meninas. Existe também o cyberbullying, em que há o uso da tecnologia da informação e comunicação como recurso para os comportamentos hostis.
Como fatores de risco para sua ocorrência, Neto (2005) cita: fatores econômicos, sociais e culturais, aspectos inatos de temperamento e influências familiares, de amigos, da escola e da comunidade. A ocorrência é mais comum entre alunos com idades entre 11 e 13 anos. Contudo, vale lembrar que essa associação com a carência econômica como um fator de risco está um pouco desatualizada, já que a classe média atualmente se encontra também envolvida em casos de violência e, sobretudo, ainda é carente de punição severa, como nos lembra Lizia Helena Nagel (2007), em seu artigo sobre o bullying. Além disso, a prática do bullying causa impacto na saúde e no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, e têm conseqüências negativas imediatas e tardias sobre todos os envolvidos: agressores, vítimas e observadores.
O alvo do bullying geralmente é o indivíduo retraído e inseguro. Algumas das características familiares entre estes indivíduos são a proteção excessiva dos pais e o tratamento infantilizado. Já os autores do bullying são populares entre os alunos, agressivos e impulsivos. A família geralmente é desestruturada, com relacionamento afetivo pobre, excesso de tolerância ou permissividade e maus-tratos físicos. Quanto às testemunhas do bullying, na maioria das vezes se calam por medo de serem elas mesmas a próxima vítima. Elas podem ser classificadas em: auxiliares, quando participam da agressão; incentivadores, quando estimulam a agressão; observadores, observam ou se afastam; e os defensores, protegem o alvo ou chamam um adulto para interromper a agressão. Aproximadamente 20% dos alunos autores também são alvos.
Segundo Fante (2005), é comum entre os alunos diversos tipos de conflitos e tensões como forma de auto-afirmação ou diversão para comprovarem as relações de força entre eles. Contudo, caso exista em sala de aula um agressor potencial ou vários deles, seu comportamento agressivo influenciará nas atividades dos alunos, promovendo interações ásperas, veemente e violentas.
O agressor usa da forma impositiva pelo uso da força, sendo seus ataques desagradáveis e dolorosos para os demais e, no que diz respeito às vítimas, geralmente são indivíduos mais frágeis, fáceis de dominar (porém, o agressor sente-se forte e confiante para brigar com outros alunos da classe), psicologicamente ansioso, inseguro, passivo, tímido, com freqüência mostra-se fisicamente indefeso, com dificuldade de impor-se e ser agressivo, sendo o tipo “bode expiatório”. O agressor sabe que este tipo de aluno se atemorizará, talvez vindo a chorar, e ninguém o protegerá.
O bode expiatório, para o agressor, é um alvo ideal, pois sua ansiedade, ausência de defesa e choro produzem um sentimento de superioridade e supremacia, podendo satisfazer alguns impulsos de vingança. Normalmente o agressor consegue fazer com que outros alunos se unam a ele, formando grupos (gangues), e induz os colegas mais íntimos a escolherem um bode expiatório, pois, ao que parece, o agressor sente a mesma satisfação quando ataca ou quando assiste outros atacando uma vítima. Sempre que seus atos produzem alguma conseqüência, o agressor tem sempre alguma estratégia para sair-se bem, mas, na maioria das vezes, o professor ou funcionários da escola não se encontram no local no momento dos ataques. Assim, os próprios alunos têm que resolver a situação por si mesmo.
É comum que a vítima não conte aos professores e aos pais sobre o que se passa na escola, e que os outros alunos participem da agressão pois sabem que o aluno é mais frágil e não consegue revidar, além de que, nenhum aluno mais forte sairá em sua defesa. Tal atitude acaba tornando-se tão comum que, quando os atos hostis tornam-se poucos, a vítima chega a estranhar o fato, sendo que, no fundo, ele sente que não possui valor e é merecedor dos ataques. Assim, aos poucos vai se isolando do grupo-classe, uma vez que sua reputação torna-se cada vez pior por causa das constantes gozações, dando a impressão entre os alunos de que ele não serve para nada.
Algumas vezes os alunos têm medo de que sua reputação seja ameaçada ou terão a desaprovação dos agressores se alguém os verem em companhia do aluno alvo das gozações, podendo temer até tornarem-se a próxima vítima, aumentando ainda mais a ocorrência do bullying.
Para que um comportamento seja caracterizado como Bullying é necessário distinguir os maus tratos ocasionais e não graves dos maus tratos habituais e graves. Portanto, os atos de bullying têm como características os comportamentos de forma repetitiva num período prolongado de tempo contra uma mesma vítima; apresentam relação de desequilíbrio de poder, dificultando a defesa da vítima; ocorrem sem motivações evidentes; e são comportamentos deliberados e danosos. Podem acontecer de forma direta e indireta (mas ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo): a direta diz respeito as agressões físicas, como bater, chutar e tomar pertences, apelidos pejorativos e discriminatórios, insultos e constrangimentos. As indiretas são através da disseminação de rumores desagradáveis e desqualificantes, visando a discriminação e exclusão da vítima do seu grupo social. Talvez esta última seja a mais prejudicial, podendo causar traumas irreversíveis.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, Márcia Mayumi Kurumoto, Noélton Panini de Sousa e Simoni Hidalgo Dantas


REFERÊNCIAS

ABRAPIA: Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência. Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes. Disponível em: < http://www.bullying.com.br/BConceituacao21.htm >. Acesso em: 15 jun. 2010.

FANTE, C. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2ª Ed. Campinas, SP: Verus Editora, 2005.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Acerca do exibicionismo do álcool entre os jovens...


        Parece que o divertimento hoje tem sido beber por beber. Vejo muitas fotos postadas no Facebook onde mostrar o copo, a ingestão de álcool, parece em si o motivo de felicidade, de status... ahh se soubessem que, num grau mais profundo, a busca de álcool e drogas é uma fuga da realidade. Sim! fuga da realidade! pois no fundo o que estão buscando são estados alterados de consciência, estados estes que "trazem felicidade" (momentânea, mas com muitas consequências prejudiciais para si e para os outros). Ou seja, você depende de algo para ser feliz, não é capaz de ao menos criar sua própria felicidade! Ahh, se soubessem que neste nível mais profundo de entendimento, nessas fotos, estão mostrado sua fraqueza!


Atendendo a pedidos...

Atendendo a pedidos, escreverei de forma mais curta e aumentarei a frequência, de modo que fique em uma linguagem simples e rápida. À todos que estão acompanhando, meu agradecimento!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O JUÍZO MORAL

Do latim “mores” – relativo aos costumes, moral é o...

“Conjunto de regras dos costumes e prescrições a respeito de comportamentos e condutas, que podem ser consideradas válidas, éticas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoa determinada, estabelecidas e aceitas pelas comunidades humanas durante determinados períodos de tempo” (Aurélio Buarque de Holanda).

Jean Piaget (1896 – 1980) afirma que “Toda moral é um sistema de regras e a essência de toda a moralidade consiste no respeito que o indivíduo sente por tais regras”.
Segundo Piaget, a fonte dos primeiros sentimentos morais é o respeito, sentimento este gerado na união da afeição e do temor. Portanto, o ingresso da criança no universo moral se dá pela aprendizagem de diversos deveres a ela impostos pelos pais e adultos em geral. Tal imposição é possível na fase de heteronomia da criança, pois esta está inclinada a aceitar as regras como inquestionáveis. Basta que os entes respeitados estabeleçam normas e regras, para aqueles que os respeitam vejam essas regras como obrigatórias e se sintam no dever de obedecer. As normas morais ainda não são elaboradas, ou reelaboradas pela consciência, e não são entendidas pela sua função social.
Para as crianças, a moral conduz à obediência e o bem se estabelece por referência à vontade dos pais. A base desta moral é uma vontade exterior e constrangedora, por isso dita heterogênea. Portanto, todo ato bom é aquele que corresponda à obediência à regra ou aos adultos. A norma é exterior à consciência, revelada e imposta pelo adulto, e suas razões são desconhecidas.
Quando a criança se afasta de seu egocentrismo intuitivo, e passa a entender os diversos pontos de vista de indivíduos diferentes, ela passa a valorizar o outro, surgindo então, o respeito mútuo e a cooperação. Os sentimentos morais deixam de ser ligados à obediência, e nasce o sentimento de regra.
Até então, uma regra era tida como verdadeira se estivesse unida a uma autoridade superior, era justo o que era imposto e, a partir de agora, basta que tal regra seja adotada por todos e que resulte de um tipo de contrato, o qual é condicionado pelo respeito mútuo.
A evolução da prática e da consciência da regra pode ser dividida em três etapas. A primeira, a anomia, é característica de crianças de até cinco ou seis anos de idade aproximadamente, sendo que, nesta etapa, as crianças não seguem regras coletivas, há ausência de moral e de regras. A segunda, a heteromia, é onde surge o interesse em participar de atividades coletivas e regradas. Nesta fase, a criança concebe as regras como algo sagrado e imutável. Porém, na prática, mostra-se muito liberal em relação à aplicação das regras, introduzindo, por exemplo, uma regra que a beneficia sem consulta prévia dos adversários. Esse desrespeito prático das regras, contraditório com a concepção religiosa da mesma, se explica como já dito anteriormente, pelo fato de que a criança nesta fase, “não ter assimilado ainda o sentido da existência de regras: não as concebe como necessárias para regular e harmonizar as ações de um grupo de jogadores e por isso não as segue à risca”. (TAILLE, 1992, p. 50).
A última etapa é da autonomia, e corresponde à concepção adulta do jogo.
Na moral ligada à autonomia, a regra do jogo se apresenta à criança não mais como uma lei exterior, sagrada enquanto imposta pelos adultos, mas como resultado de uma livre decisão e como digna de respeito na medida em que é mutuamente consentida. A partir desse momento, a criança aceita que se mudem as regras, desde que todos concordem, assim, todas as opiniões são permitidas; ela também deixa de considerar as regras como eternas e transmitidas através das gerações. A regra agora é concebida como uma livre decisão das próprias consciências. Não é mais coercitiva nem exterior, pode ser modificada e adaptada às tendências do grupo, é uma construção progressiva e autônoma. Isso ocorre por volta dos dez, onze anos em média.
O respeito mútuo aparece como a condição necessária para autonomia, sob seu duplo aspecto intelectual e moral. Liberta as crianças das opiniões impostas, em proveito da coerência interna e do controle recíproco. A cooperação também é um fator importante para conquistar essa autonomia moral.
No processo de internalização das regras ocorrem dois tipos de sanções: sanção expiatória e sanção de reciprocidade.
Para uns, a sanção é justa e necessária: quanto mais severa, mais justa; é eficaz no sentido que a criança punida saberá cumprir seu dever. Esta sanção é denominada expiatória. Todo “crime” será obrigatoriamente castigado, mesmo que seja por forças da natureza. A sanção expiatória acontece quando a quantidade de castigo é estranha àquela do delito; seu objetivo consiste em reconduzir o indivíduo à obediência, por meio de uma repressão suficiente, acompanhado por um castigo doloroso. Essa sanção é arbitrária, ou seja, não há nenhuma relação entre o conteúdo da sanção e do ato, e deve haver uma proporcionalidade entre o sofrimento imposto e a gravidade da falta. Acompanha a idéia de coação e as regras de autoridade.
Na sanção de reciprocidade, a expiação não constitui uma necessidade moral, as sanções justas são aquelas que exigem uma restituição, ou que fazem o culpado suportar as conseqüências da sua falta; pode consistir em um tratamento simples de reciprocidade. Essa sanção considera a punição inútil, sendo a repreensão e a explicação mais proveitosas que o castigo. Acompanha também a cooperação e as regras de igualdade; se a regra for violada, não há necessidade de colocar as coisas em ordem, ou utilizar de punição dolorosa, bastando apenas a ruptura com o elo social provocado pelo culpado.
Na responsabilidade objetiva, a criança avalia os atos não pela intenção que a precederam, mas em sua conformidade com as regras estabelecidas. Portanto, “avalia um ato em função de seu grau de cumprimento à lei e não à luz das intenções, boas ou más”. (NICOLAS, 1978, p. 163). Está ligada à moral de heteronomia, onde a regra é uma realidade obrigatória e intocável. A criança leva em conta o resultado material do crime, e não sua intenção, considera em suas avaliações fatos materiais, conseqüências diretas e os prejuízos decorrentes do crime.
A intencionalidade é um elemento subjetivo essencial à nossa moralidade. A criança pequena sabe que há ações intencionais e outras casuais (“sem querer”), porém, esse critério ainda não está presente no seu universo moral, pois se instalará somente quando ela compreender os deveres como decorrentes de obrigações mútuas que implicam acordos entre as consciências, que ela atribuirá intencionalidade aos fatos. A responsabilidade objetiva diminui com a idade, sendo substituída pela responsabilidade subjetiva, a qual leva em conta apenas as intenções.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
NICOLAS, A. Introdução ao pensamento de Jean Piaget. Tradução de Odilon Mattosinhos de Miranda.Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
PIAGET, J. O juízo moral na criança. Tradução Elzon Lenardon. São Paulo: Summus, 1994.
TAILLE, Y. L.; OLIVEIRA, M. K.; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky e Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. Organizadores: Yves de La Taille, Marta Kohl de Oliveira, Heloysa Dantas. São Paulo: Summus, 1992.

Universidade Estadual de Maringá - Andressa Pires Martins Santana e Noélton Panini de Sousa.