Tenho ouvido vários comentários de pessoas se dizendo horrorizadas por
não poderem mais educar seus filhos, e que, após a “Lei Menino Bernardo”, as
crianças e adolescentes ficarão incontroláveis. Muitos justificam que apanharam
quando criança e hoje não são traumatizados. Pois bem, posso afirmar que tal
lei é um avanço para a sociedade brasileira, desde que aplicada.
É certo que as crianças e adolescentes testam nossos limites nos
vários aspectos da vida, seja econômico, social, emocional, comportamental, psicológico,
etc., etc., etc., e nos fazem perder a cabeça. Com a palmada (quando não é substituída
por fios de eletrônicos, pedaços de pau, varas, etc.) a situação se resolve na
hora. Contudo, a criança sente a agressão física como um ataque ao seu Eu, e tal
Eu, merecedor de tamanha agressão, passa a ser sentido como algo inferior,
desprezível e digno de sofrimento. É um respeito baseado na intimidação, que
culmina em medo, insegurança, timidez, agressividade, entre inúmeros outros
problemas na personalidade. Além disso, a criança aprende com o exemplo dos
pais a como resolver os conflitos e divergências: através de socos, pontapés e
agressões em geral.
Então a solução é deixar a criança fazer o que quer? É isso que a “Lei
Menino Bernardo” preconiza?
Não!
Toda criança tem, entre outras, duas grandes necessidades básicas:
Afeto e Limites. A palmada vem sendo utilizada há imemoráveis tempos, e é a
forma mais fácil para os pais terem seus filhos sob controle, além de ser o
jeito mais popular de se colocar limites, trazendo muitas consequências negativas.
No entanto, não é a única. O limite pode ser posto de várias outras maneiras, e
pode ser pensado e adaptado conforme a realidade de cada família. Alguns
exemplos são: o cantinho do pensar; privar de algum objeto ou atividade que o
filho gosta; castigos (que não físicos); tarefas extras, como auxiliar os pais
nos cuidados da casa; olhar de reprovação; e inúmeros outros.
A resistência, a meu ver, à lei proposta se baseia no fato de a grande
maioria das pessoas desconhecerem novas formas de educar e impor limites, e,
por não terem esses conhecimentos e não terem vivenciado elas próprias estas
novas formas, sentem-se despreparadas quanto às novas possíveis formas de
educar, quando não as enxergam como ineficientes.
Educar através da agressão é fácil, basta experimentar os ânimos um
pouco exaltados. Difícil mesmo é ter que se reinventar e se redescobrir dentro
de novas formas de educar.
Pensem bem: porque bater em crianças é aceito, mas se se faz o mesmo com
um idoso ou uma mulher essa atitude é repugnada por todos? Algo de errado deve
ter com tal atitude, e é o fato de se caracterizar como uma agressão.